segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

... aldeia faminta

"(...)
Quando me aborrecia de caminhar, parava em frente duma janela e olhava, para além do vasto pátio da propriedade, a represa e o bosque de bétulas novas, despojadas de folhas, e, mais adiante, um extenso campo coberto da neve que caíra há pouco e principiava a derreter-se. Na linha do horizonte, empoleiradas numa colina, distinguia um aglomerado de isbás enegrecidas, donde partia, em fita irregular, ao longo dum alvo campo de neve, uma estrada lamacenta e suja. Era Pestrovo, a aldeia de que falava o meu anónimo correspondente.

Não fossem os corvos que, prevendo chuva ou neve, voavam crocitando por cima da represa e dos campos, não fossem as marteladas que se ouviam no barracão onde trabalhavam os carpinteiros, este pequeno mundo (que tanta agitação parecia agora encerrar) assemelhar-se-ia ao mar Morto: tudo ali era silencioso, inanimando, monótono, duma tristeza confrangedora.
(...)"

em: "A Minha Mulher", páginas 9 e 10.
Anton Tchekov; Edições Quasi

2 comentários:

Blueminerva disse...

Pronto.... já me aguçaste o apetite!
Um abraço

Mauro disse...

Fico contente que assim seja...

Abraço