domingo, 22 de fevereiro de 2009

paisagem

"(...) A verdade, se quisermos aceitá-la em toda a sua crueza, é que, simplesmente, não é possível descrever uma paisagem com palavras. Ou melhor, ser possível, é, mas não vale a pena. Pergunto se vale a pena escrever a palavra montanha se não sabemos que nome se daria a montanha a si mesma. Já a pintura é outra coisa, é muito capaz de criar sobre a paleta vinte e sete tons de verde seus que escapam à natureza, e alguns mais que não o parecem, e a isso, como compete, chamamos arte. Às árvores pintadas não caem as folhas."

por: José Saramago
em: A Viagem do Elefante (pp: 241 e 242)

"Home"

Sugestão musical da semana:

música: Home
interprete: Autumn Shade
álbum: Ezra Moon, 2007

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Arqueologia - Tempo - Espaço

Arqueologia, tempo e espaço, são três conceitos cuja ambiguidade é cada vez mais evidente, mas cuja relação é inequívoca, e, sobretudo, Tempo e Espaço podem por si sós ser o objecto (ou objectivo?!) da prática arqueológica.

Assumindo então esta(s) relação(ões) como constantes e indissociáveis, isto é, que em última instância, ou mesmo única, a Arqueologia (ou Arqueologias?!) é tempo-espaço / espaço-tempo, que é então a relação de grandeza e/ou de preponderância de um e de outro na prática e na vivência desta ciência (social e humana, mas também física, química e numérica) multidisciplinar?

Comecemos então pela procura de definir, na medida do possível e mediante as limitações do autor desta reflexão, Tempo e Espaço na/da arqueologia e na concreta realização da mesma.
O Tempo da/na arqueologia pode, numa primeira impressão, ser definido como o tempo do estudo de passados mais ou menos longínquos, desde a Pré-história até ao passado recente… mas, isto é demasiado redutor e falacioso, pois o tempo arqueológico é também, e talvez sobretudo, o do Presente, aquele em que o estudo arqueológico tem lugar, aquele em que a leitura e interpretação das evidencias arqueológicas são realizadas pelo Arqueólogo (segundo as suas convicções, acções, princípios, objectivos, etc.) perante os seus pares e perante a sociedade presente, sendo portanto tempos e não tempo, em que um tempo passado é interpretado à luz de um tempo presente e, ainda, passível de ser reinterpretado num tempo futuro, isto porque em arqueologia há que ter a consciência que lidamos com verdades relativas e restritas ao(s) momento(s) da sua concepção.

Aconteceu no paragrafo anterior, com plena consciência por parte do autor de tal facto, que na tentativa de circunscrever o conceito de tempo arqueológico tenhamos caído num dos espaços da realidade da actividade arqueológica: o Arqueólogo!

Este é, incontornavelmente, um dos principais actores do(s) espaço(s) arqueológicos, mas não o único evidentemente, e nem seque o primeiro no tempo (na cronologia) espacial (físico) do acontecimento e do saber arqueológicos.

O primeiro espaço é, precisamente, o da acção acontecida (acção antropológica – humana) e dos registos materiais por esta acção (momento(s)) preservados (ruína/estruturas positivas e/ou negativas, fragmentos cerâmicos, líticos, osteológicos, etc). O segundo espaço é o da intervenção arqueológica (escavação), seja ela com carácter de emergência ou de investigação académica, onde através da exumação da materialidade que restou (sempre uma ínfima parte da que existiu, o que trunca realidades) e do registo (o mais cuidado e exaustivo possível – assim se espera pois a intervenção arqueológica é irreversível por natureza) momento em que o arqueólogo e a sua equipa, através do seu conhecimento e saberes (aqui conhecimento e saber são eles mesmos espaços mas de características metafísicas) começam a esboçar a (re)criação do espaço-tempo que havia sido o da materialidade e das evidencias antes da sua exumação, espaço-tempo este que ganha forma (se bem que sempre com consciência da sua relatividade) no espaço (-tempo) dos estudos de gabinete, nas análises e caracterização das evidencias…

Pode-se então concluir pelo que até aqui foi exposto que Tempo e Espaço são de valor e valência equivalente da/na prática arqueológica, não sendo também passíveis de estancar um do outro? Sou peremptório a afirmar que sim!

E no que à escala de ambos diz respeito, Espaço-Tempo arqueológicos serão de uma vastidão e amplitude tais capazes de abarcar no seio desta ciência tempo e espaços do(s) passado(s), do agora e do devir (que virá a tornar-se Presente e Passado)? Julgo que tal é uma combinação inconcebível (megalómana) e até potencialmente descredibilizadora para a Arqueologia, preferindo crer que o espaço-tempo / tempo-espaço do conhecimento arqueológico são limitados ao do seu Presente sócio-cultural e ao dos indivíduos intervenientes na (re)criação deste(s) saber(es), cuja factualidade, deve ser, como já anteriormente referido, assumida como relativa e restrita às convicções, moral, valores, técnicas, tecnologias e sociedade do presente (sublinhando e/ou retorquindo estas premissas e quesitos), e, esperando-se que seja capaz de a esta mesma sociedade oferecer algo trabalhando e contribuindo activamente para a sua melhoria a nível cultural social e mesmo económico, não se refugiando num discurso “caro” por debaixo de um chapéu de linguagem meramente elitista (cientifica?!) que a torne de tal modo fechada que deixa mesmo de ser ciência (social e humana) correndo o risco de tornar-se num placebo e num recreio (pseudo)intelectual, uma entidade morta e (ultra)passada no tempo e no espaço humanos…

"(...)
quantos sou?
(...)" F. Pessoa

Texto por: Mauro Correia; Cuba, Alentejo, 14 de Fevereiro de 2009


fonte da imagem: http://www.smoothware.com/danny/hourglass.jpg

"Please read the Letter"

A sugestão musical desta semana vai para Robert Plant & Alison Krauss grandes vencedores dos Grammys '09... fantástico álbum:


musica: Please Read the Letter
interprete: Robert Plant & Alison Krauss
álbum: Raising Sand, 2008

"Caught out running
With just a little too much to hide
Maybe baby
Everything's gonna work out fine
Please read the letter
I pinned it to your door
It's crazy how it all turned out
We needed so much more
Too late, too late
A fool could read the signs
Maybe baby
You'd better check between the lines
Please read the letter, I wrote it in my sleep
With help and consultation from
The angels of the deep
Once I stood beside a well of many words
My house was full of rings and
Charms and pretty birds
Please understand me, my walls come falling down
There's nothing here that's left for you
But check with lost and found
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote
One more song just before we go
Remember baby
All the things
We used to know
Please read my letter
And promise you'll keep
The secrets and the memories and
Cherish in the deep
Ah -
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote
Please read the letter that I wrote"

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Impressões [3] - momento(s)

O sono foi agitado, há muito tempo que não pensava nisto, na saudade de algo que nunca o foi, saudades de Ti... do teu olhar, do teu sorriso, da tua voz, dos nossos diálogos e silêncios... do teu jeito de ser: frágil e cruel, egoísta e carinhosa...

Há muito que não te vejo, estás longe física e emocionalmente, provavelmente é algo que não tornará a acontecer...
Tenho saudades tuas... que se passou para chegar a isto? Porque nunca fui eu capaz de te confrontar directamente com o que sentia, ou sinto? Porque hesitei sempre? Porque te afastei e deixei que me manuseasses e desconsiderasses ao teu bel-prazer?

Sinto falta de ti (de nós!), dos nossos momentos: jantares - dos sofisticados e dos frugais, dos auxílios que nos prestamos mutuamente, do cinema... daquela noite de fado inesperada e quase mágica... da musica!

Estás longe e provavelmente nunca virás a ler esta confissão!
E se a leres perceberás que é para Ti que a escrevo?
Perceberás o mal que estou e o mal que me causas(te)? Perceberás o quanto te quero, mesmo do meu jeito desajeitado e inconsequente?

Sinto-me órfão daquilo que foi, daquilo que poderia ter sido e de um devir que uma leve esperança alimenta em mim...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

...

TIC-TAC, TIC-TAC, TIC-TAC, tic-tac, tic-tac, tic-tac...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"... (as) valquírias "

musica da semana:

musica: The RIde of the Valkyries (Die Walkure)
compositor: Richard Wagner
interpretação: Radio Filharmonisch Orkest Holland sob a batuta de Edo De Waart

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Impressões [2]




Reflectindo nas inúmeras vezes em que fico sem palavras, silencioso, corado, embasbacado, atrapalhado e com vontade de desaparecer, tenho a impressão, por vezes, que sou um Ser envergonhado e retraído, adverso à interacção e com pânico do estar em publico... algo que não se enquadra na imagem de confiante, arrogante, mal encarado e altivo que muitas vezes me atribuem... afinal quem/o que sou?

Um espelho? Que reflexo(s)?



fonte da imagem: http://www.edinformatics.com/inventions_inventors/Mirror.jpg

"Muda de Viva"

Cá vai a habitual sugestão musical da semana:

musica: Muda de Vida
interprete: Humanos*
álbum: Humanos, 2004

"Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar...

(...)"

Peço desculpas aqueles que ainda passam nas NoitesBrancas e que têm encontrado pouco mais que as sugestões musicais, o momento da vida assim o tem obrigado [é como se não conseguisse algo mais do que retirar silencio da ilha deserta e minúscula que é o meu ser], mas tentarei mudar a atitude em breve!

Desejo a todos uma boa 1ª semana de Fevereiro.
Abraços!

*sitio oficial: http://humanos.sapo.pt/