terça-feira, 17 de junho de 2008

"Jardim das Delicias"

"O Jardim das Delicias terrenas" (triptico): Hieronymus Bosch (1450-1516) - óleo sobre madeira, 220 x 389 cm - Museu do Prado, Madrid
("O Paraíso terreno" (volante esq.) - 220 x 97 cm / "Jardim das Delicias" (painel central) - 220 x 195 cm / "O Inferno" (volante dir.) - 220 x 97 cm)

O Jardim das Delícias Terrenas (1504), representa/descreve a história do Mundo (a visão de Bosch!?) a partir da criação.

No volante esquerdo, representa o paraíso terreno, antes do pecado de Adão e Eva, antes do comer do fruto proibido...

Love-in? Amor livre?
O saborear de frutos enormes (sobretudo morangos), convívio e divertimento (prazer!) na água e em deleites eróticos de homens e mulheres nús, um ambiente idílico e onírico! Uma utopia do prazer e do belo?

No lago ao fundo, homens e mulheres tomam banho em conjunto, mas no plano do meio, os mesmos estão cuidadosamente separados uns dos outros. No pequeno lago redondo só existem mulheres e os homens montam os mais diversos tipos de amimais (mais ou menos exóticos) à sua volta. Os jogos dos “cavaleiros acrobáticos” - um saltando sobre a sua montada – sugerem que estão excitados pela presença das mulheres, uma das quais está já a sair da água. Bosch serve-se deste meio para demonstrar a atracção sexual entre homens e mulheres, e não é por acaso que o pequeno lago e a cavalgada circundante ocupam o centro do jardim, como fonte e inicio dos jogos de amor que têm lugar nas restantes áreas. Para os moralistas medievais que nunca se mostraram muito cavalheirescos neste aspecto, era sempre a mulher que seduzia o homem para o pecado e para a concupiscência e luxuria, seguindo o exemplo de Eva. Este poder maligno da mulher foi muitas vezes representado, mostrando uma mulher no centro dos admiradores masculinos. Mas nos quadros de Bosch,, os homens em vez de dançarem, montam a cavalo. Os homens e as representações físicas do pecado foram muitas mostradas em cima de variados tipos de animais. No fundo, tanto naquela, como hoje, servia ocasionalmente como a metáfora para o acto sexual.
Assim, Bosch, para dar o seu panorama do prazer carnal, na âmbito do jardim do amor, reunia os mais variados temas eróticos da Idade Média... o Jardim das delicias, no entanto, não deixa de ser uma representação espelhada da tolice humana – presente noutras obras do autor como: a Nave dos Loucos, a Morte do Avarento, o Carro de Feno, ou o Jardim do Amor e o Banho de Vénus. Mas, não devemos acreditar e aceitar que as pessoas se dedicam despreocupadamente a jogos amorosos cometendo o pecado mortal da Luxuria.
Tais cores e beleza/formas encantadoras, podem levar-nos a crer que nunca seriam utilizados para a representação de algo condenável, mas, no fim da Idade Média e inicio do Renascimento, a beleza física era muitas vezes vista como suspeita, pois aprendia-se que o pecado se apresentava ás suas vitimas com o mais atraente dos aspectos, mas que por de trás de tal beleza física e carnal se escondia muitas vezes a morte e a condenação eterna. Portanto, e não negando o carácter onírico e fantástico desta obra, Bosch mostra-nos com o Jardim das Delicias, também, um falso paraíso, cuja beleza é passageira e conduz os homens e mulheres à ruína e à condenação, tema muito comum na arte e literatura medievais.
Neste painel central não há também crianças – não cumprimento do mandamento «frutificai e multiplicai-vos» - mostrando o painel o não cumprimento do mandamento divino por parte de Adão e Eva e seus semelhantes/descendentes, mas sim a sua perversão – comido o fruto proibido.

No volante direito, o sonho erótico do Jardim, cede, perante a realidade do pesadelo. O Inferno de Bosch. Os edifícios ardem e explodem contra o fundo escuro, a agua que os circunda transforma-se em sangue, há representações de todo o tipo de formas de morrer (com dor) e ás mãos das mais variadas criaturas, a Luxuria é o pecado a castigar, mas também a preguiça, a ira, etc.


"A Criação do Mundo" (verso dos volantes do triptico do "Jardim das Delicias terrenas") - grisalha em madeira - 2220 x 195 cm

No verso dos volantes, esta representado em tons suaves de cinzento e cinzento-esverdeado, a criação do mundo (de acordo com a história da Bíblia, segundo a qual, Deus criou o mundo pela sua palavra). De uma abertura nas nuvens, no canto superior esquerdo, o Criador olha, sentado num trono, calmo. No painel em frente na sua margem superior pode ler-se a sua acção: «ipse dixit et facta sunt, ipse mandavit et creata sunt» (salmo 33,9) - «Assim como ele fala, assim é feito, como ele construiu, assim será.»

bibliografia: "A obra de pintura: Bosch", Walter Bosing; Taschen/Público, 2003

ligações: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/bosch/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hieronymus_Bosch


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