sábado, 3 de novembro de 2007

"Crónicas Portuguesas", 25 anos de Fotografia em Portugal

"O Portugal de Georges Dussaud, esse país que parece tão próximo e tão longe, é um dicionário de sensações de comprazimento e memória; um documento quase secreto de muita saudade nossa. Usando um contraste quase violento do claro-escuro, fazendo com que as cinzas da luz percorram, aparentemente soltas, o papel, como resíduos de carvão e mantendo no modo de olhar o mundo, um humanismo indefectível, Georges Dussaud inventou para nós a gentileza de ser e de existir que nos agrada. Talvez que o que faz destas imagens a sedução do lugar e das pessoas, seja precisamente essa aparente contradição da dureza da luz e sombra e do emaciamento dos sentimentos. Há aqui aquele olhar sóbrio de Miguel Torga, que sentimos nosso e alheio, íntimo, mas duro e intransigente- com o sol, a claridade, os rostos, os gestos; daquela intimidade que se ganha, sabendo de si e dos outros. E, naturalmente, a magia dos enquadramentos, o acabado da composição, onde não cabia nenhum excesso mais. Georges Dussaud ainda acredita no homem e nas suas andanças, nas suas lides do quotidiano, interrompe-se na beleza da paisagem e na justeza do olhar. E este é, pois, o país percorrido há 25 anos, imobilizado em imagens a que recusamos a análise e esquecemos a cor que tudo cobre. Não é com nostalgia que o olhamos, mas é com saudade que lhe damos o nome. A saudade é tão portuguesa como estas imagens quase telúricas nos parecem, faz do pretérito um futuro a haver, é, sempre, um salto para o desconhecido, para o mistério. E é isso que aqui vemos, essa pulsão, esse fluir, esse exame.

Breve Biografia do autor

Georges Dussaud, (Brou, Eure et Loir, Bretagne) As reportagens internacionais de Georges Dussaud, desde 1975, (Grécia, Portugal, Irlanda, Índia, Cuba, França tornaram conhecidas as suas imagens daquele humanismo fotográfico tardio que a Magnum soube realizar e recolher e que revela na Agência RAPHO, de Paris, a que pertence desde 1986. São fotografias de um fotógrafo flanneur, viajante e vagabundo da fotografia directa mas profundamente subjectiva e, naturalmente a preto e branco. Fixou em Portugal a paisagem e os homens no seu modo peculiar, (que já foi comparado a Koudelka), onde cada imagem é enquadrada com o que a cultura do olhar sugere ao fotógrafo, geometrizante, dinâmica ou estática, emotivamente centrada na estranheza dos lugares e das expressões. Foi dos primeiros, no nosso país, a ultrapassar a escola da Casa Alvão no Douro, dando-nos a vertigem dos montes e lugares sem a amabilidade do humanismo português, imagens incluídas no seu projecto-encomenda do governo francês em 1990, "Europe Rurale 1994". Outros projectos seus podem ver-se em diversa bibliografia, destacando-se Presqu’une île – sentiers douaniers en Bretagne, livro que obteve o prémio do mais belo livro marítimo 2005 no Festival Livre e Mar de Concarneau. Tem em preparação um livro que inclui a selecção pessoal das suas melhores 50 imagens ("Georges Dussaud-voyages photoghraphiques"), nas Editions de Juillet. Expõe regularmente em França, Irlanda e Portugal, Brasil, México, Itália fazendo parte de inúmeras colecções nestes países. Em Portugal, onde tem participado nos Encontros Fotográficos de Coimbra e de Braga, participa em diversos álbuns e catálogos e os livros "O Trás-os-Montes de Georges Dussaud", com textos de Gerard Castello Lopes, "Portugal e Índia", do Arquivo Fotográfico de Lisboa, "Portugal terra fria", Assírio & Alvim, "Douro de cepas e fragas", Instituto Vinho do Porto e "Trás-os-Montes", Assírio e Alvim, (1984). Pertence às colecções Nacional de Fotografia, C.P.F., Arquivo Fotográfico de Lisboa, Museu da Imagem, Braga."

Texto e fotografia em: http://www.cpf.pt/exposicoes.htm#t3

Foi apenas ontem que vi esta exposição...Georges Dussaud no centro Português de Fotografia (Cordoaria, Porto)
Uma belíssima e fascinante exposição de fotografia de alguém que conseguiu captar a "alma" do(s) povo(s) de Portugal

informação útil:14 Jul. a 4 De Nov. 2007
entrada gratuita
horário - 3ª a 6ª das 10.00 às 12.30 e das 15.00 às 18.00
Sábados, domingos e feriados: das 15.00 às 19.00

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