sábado, 1 de agosto de 2009

... mendigo

"(...) Pensas que consideram o mendigo como um homem? Não. Há dez anos que ando pelo mundo, sei muito bem o que digo. Dão-te um pedaço de pão como se dessem uma nota de mil, e acabando de o dar imaginam que têm abertas as portas do Paraíso. Pensa bem, que motivo os leva a fingir que são generosos? É para se porem em paz com a sua consciência, apenas para isso, meu pequeno. Atiram-te uma côdea e assim já não se envergonham de comer. É apenas por isso, não penses que é por terem pena de ti. O tipo que como de modo a saciar toda a fome é um selvagem, e nunca tem pena do que tem a barriga vazia. O saciado e o faminto serão sempre inimigos, olharão sempre um para o outro como cães prontos a engalfinharem-se. Não há possibilidade de se comoverem e de procurarem entender-se..."

em: "Três Contos", pp: 13; Ed. Quasi

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