quinta-feira, 29 de maio de 2008

...profundidade

“(...)
Ó velho oceano, os homens, apesar da excelência dos seus métodos, não conseguiram ainda, ajudados pelos meios de investigação da ciência, medir a profundidade vertiginosa dos teus abismos; abismos há em ti que as longas sondas, e as mais pesadas, confessaram ser inacessíveis. Aos peixes... isso é permitido; não aos homens. A mim mesmo perguntei por vezes que seria mais fácil de conhecer: a profundidade do oceano ou a profundidade do coração humano? Muitas vezes, com a mão em pala sobre a testa, de pé nos barcos, enquanto a lua se balançava entre os mastros de um modo irregular, surpreendi-me abstraído de tudo o que não era o fim que pretendia, ao esforçar-me por resolver este difícil problema! Sim, qual o mais profundo, o mais impenetrável, o oceano ou o coração humano? Se trinta anos de experiência da vida podem até certo ponto inclinar a balança para uma ou outra destas soluções, seja-me permitido dizer que, apesar da profundidade do oceano, não se pode comparar, quanto a esta propriedade, com a profundidade do coração humano. Já convivi com homens virtuosos. Morriam aos sessenta anos e toda a gente exclamava: «Praticaram o bem neste mundo, quer dizer, praticaram a caridade: eis tudo, não é esperteza nenhuma, todos podem fazer o mesmo.» Quem pode compreender o motivo porque dois amantes que ainda ontem se adoravam se afastam, por causa de uma palavra mal interpretada, um para Oriente e outro para Ocidente, com os aguilhões do ódio, da vingança, do amor e do remorso, e nunca mais se vêem, ambos embrulhados no seu solitário orgulho? É um milagre que todos os dias se repete e que nem por isso é menos miraculoso. Quem pode compreender a razão pela qual as pessoas saboreiam não apenas as desgraças dos seus semelhantes, mas também as particulares dos seus amigos mais queridos, apesar de ao mesmo tempo sentirem aflição? Um exemplo incontestável para fechar a série: o homem diz hipocritamente que sim e pensa que não. (...)”

por: Isidore Ducasse (Conde de Lautréamont), "Os Cantos de Maldoror (canto 1)"; paginas 34 e 35. Edições Quasi

2 comentários:

QC disse...

Estranho!
A LAURIE LIPTON, a Autora, do quadro que usas como imagem, em nada se fica atrás do Lautréamont Y dos seu Cantos.
Por isso, considero Lastimável que tenhas feito tão desprezível uso do seu trabalho sem o assinalares. Estranho tb é que apareça uma tira vermelha a Dizer Cantos de Maldoror??? Será que é a estes fenómenos de aparente ( parece, pelo menos!) que denominam vandalização de direitos de Autor??
Tratando-se da Larie Lipton é mesmo Grosseira Ignorância!
Ora, vai lá ao site dela e confirma a cretinice!
Vale.

Mauro disse...

Caro(a) de.puta.madre,

1º, obrigado pela visita.
Acho uma cretinice, isso sim, o conteúdo do teu comentário, sobretudo pela sua falta de fundamento e teor ofensivo, isto porque, faço, como tento sempre faze-lo, a referencia à fonte utilizada, neste caso os "Cantos de Maldoror", utilizando como ilustração a capa do livro, logo não cometi plágio, nem eu, nem a editora, pois, a referencia à autoria da obra e seu titulo - "The love bite" por Laurie Lipton - na capa vêm referidas no livro, bem como uma estampa da mesma sem a tira como o titulo da publicação, pelo que é de crer que tenham autorização legal para o fazer/utilizar. Isto levou-me, também, pois achei "The love bite" muitíssimo interessante e desconhecendo a sua autora, a no momento em que adquiri o livro a pesquisar acerca da mesma para conhecer o seu trabalho.
Portanto julgo que deverias verificar 1º da falta ou não de escrúpulos (meus neste caso) antes de me acusares injustamente.

Sem mais, Mauro Correia!